sábado, 28 de março de 2015

Celular e reza

A religião digital na era da transcendência banalizada

Marcia Tiburi
Nossa época é caracterizada por crenças religiosas irrefletidas e inconscientes. O lugar da religião ou da religiosidade na vida cotidiana fica entre o autoritário fundamentalismo como negação de outras religiões e da vida laica, e seu curioso complemento, uma religiosidade tão banal quanto profana relacionada a diários rituais compulsivos e repetitivos que sugerem liturgias.
Assim como o crente faz libações, oferendas e cultos e, por meio deles,  estabelece contato com a transcendência, os devotos do capital aderem gestualmente a práticas rituais mesmo que se considerem ateus em tudo. O desejo de transcendência, base de toda religiosidade, é administrado por quem promete melhor. O bom publicitário é o melhor pastor. Transcendência barata ao alcance de todos, é a ladainha como subtexto do consumismo ritual na religião capitalista. Só que, no consumismo, o absoluto prometido em qualquer religião é elevado da esfera profana a uma ordem teológica ainda fundamentalista.
Religião e telefonia
No cenário em que o profano se tornou sagrado, quem não usa celular posiciona-se como ateu. Na ausência de um aparelho de último tipo, a ovelha desgarrada pode ser vista como o próprio “pobre de espírito”.
No contexto de danação e desespero coletivos, em que a sensação de desamparo e abandono é a forma da psique geral, as corporações telefônicas funcionam como igrejas prometendo “acesso” absoluto, enquanto o acesso é, ele mesmo, elevado a absoluto e, portanto, deificado. As empresas de telefonia lutam por clientes como as igrejas por crentes. O que ambas têm em comum é a promessa teológica da transcendência: estar em todo lugar por meio de uma conexão absoluta que será vendida a preço de um dízimo, o chip pré ou pós pago.
A “ligação” total, a conexão infinita, a promessa de que com nossos celulares não estaremos sós, mas ligados no “ACESSO” total, feitos “Deus”, dá a sensação de que fomos salvos do abandono mortífero que experimentamos nestes tempos melancólicos.  Longe de um sentido para a vida, os desesperados vão em busca de ofertas baratas de “ligação”, a redenção de toda dor. Que as bugigangas telefônicas promovam tão facilmente a aniquilação da subjetividade, aquilo que antigamente chamávamos de “alma”, é o que importa se quisermos ver o lado negativo e diabólico dessa nova forma de religião.
O celular é tão religioso que em seu ser está a ligação (re-ligare é a velha palavra latina que ajuda o bom leitor) e, ao mesmo tempo, a sacralização que significa também separação: quem carrega um celular é totalmente encontrável, mas também intocável, o que vemos no gesto de concentração no aparelho por parte do usuário, sobretudo quando ele está com outras pessoas em situações concretas e prefere permanecer “ligado” no celular. O celular promete a autossuficiência mágica de um indivíduo absoluto, ou seja, em estado de “deus”.
A nova religião implica outro gesto aparentemente novo que mostra o nexo entre arcaico e moderno. Dedos nas teclas são como dedos nas contas: a reza religiosa já previa a reza digital. Celulares lembram terços de contas usados pelas beatas nas intermináveis novenas de antigamente. A compulsão entre uma Ave-Maria e um SMS, entre um Pai Nosso e um “chat”, dão-nos a noção de ritual digital. A ligação é a “re-ligação”. Que os celulares apareçam substituindo as velas como na celebração da escolha do novo Papa é uma imagem que explica tudo isso.
Jovens e adultos, todos com seus celulares, digitando em telas como quem pratica alguma forma de mágica, são os novos adeptos da religião digital. Steve Jobs foi um de seus principais santos, aquele que ensinou sua catequese a uma geração de devotos.  A aliança entre o tecnológico e a estética do “imaterial” característica dos gadgets da igreja Apple fazem de Jobs o “Deus do Design” em um mundo que prefere o milagre da aparência a qualquer outro.
marciatiburi@revistacult.com.br
LINK: http://revistacult.uol.com.br/home/2013/06/celular-e-reza/

quarta-feira, 25 de março de 2015

LIVROS DE FILOSOFIA (Platão)

Olá, mortais. Segue uma seleção de livros do Platão encontrados no Portal Domínio Público.

(clique nos títulos dos livros para fazer download)

Apologia de Sócrates - 28 páginas
Apologia de Sócrates é a versão de Platão de um discurso dado por Sócrates em cerca de 399 a.C..

Críton (o dever) - 13 páginas
Críton (ou Do dever) é um diálogo entre Sócrates e seu amigo rico Críton em matéria de justiça, injustiça, e a resposta apropriada a injustiça.

Fédon é um dos grandes diálogos de Platão de seu período médio, juntamente com a A República e O Banquete. Fédon, que retrata a morte de Sócrates, também é o quarto e último diálogo de Platão detalhar os últimos dias do filósofo depois das obras Eutífron, Apologia de Sócrates e Críton.

Desde as primeiras páginas de Filebo, aparecem várias questões que levantam o seguinte problema: o que é a felicidade do homem? Philebus respondeu que o prazer, e Sócrates na sabedoria, ou, talvez, uma forma de vida superior à sabedoria e prazer.

Górgias (a retórica) - 78 páginas
Górgias é um diálogo de Platão, filósofo grego do século V a.C..Deverá ter sido escrito depois da primeira viagem de Platão à Sicília, em 387 a.C. Situam-no na acmé (maturidade) da vida: depois dos quarenta anos, isso significa que, pela boca de Sócrates fala já o próprio [Platão].

O Banquete, também conhecido como Simpósio é um diálogo platônico escrito por volta de 380 a.C.. Constitui-se basicamente de uma série de discursos sobre a natureza e as qualidades do amor (eros).

O Sofista - 72 páginas
Sofista é um diálogo platônico que ocupa-se com os conceitos de sofista, homem político e filósofo. Além disso, o diálogo aborda a questão do não-ser. Nesta obra encontra-seuma posição de Platão sobre o conhecimento e também uma explicitação detalhada do método da investigação filosófica.

É um dos diálogos de Platão. No diálogo é apresentado eminentemente questões referentes à tese das formas inteligíveis, à ontologia platônica e ao Um (ou "Uno").

Teeteto (o conhecimento) - 77 páginas
O Teeteto  é um diálogo platônico sobre a natureza do conhecimento. Nele aparece, talvez pela primeira vez explicitamente na Filosofia, o confronto entre verdade e relativismo.


Portal Domínio Público -
O "Portal Domínio Público", lançado em novembro de 2004 (com um acervo inicial de 500 obras), propõe o compartilhamento de conhecimentos de forma equânime, colocando à disposição de todos os usuários da rede mundial de computadores - Internet - uma biblioteca virtual que deverá se constituir em referência para professores, alunos, pesquisadores e para a população em geral.

Informações sobre os livros - http://pt.wikipedia.org/wiki/

Biologia e Filosofia: estreita relação

Os pesquisadores Humberto Maturana e Ximena Dávila trazem para São Paulo (SP), em associação com a Caravanserai Brasil, evento que promove os fundamentos da chamada Biologia-Cultural. A corrente estuda o cotidiano e as interações sociais a partir de uma perspectiva biológico-cultural

Em sua opinião, em que ponto a Filosofia e a Biologia caminham juntas? 

Filosofia e Biologia caminham juntas conquanto entendermos a filosofia como uma filosofia fundamental e crítica; como a arte de pensar o que pensamos e refletir sobre o que fazemos na vida cotidiana. Ela é fundamental porque quem a experencia é um ser vivo; ou seja, um ente biológico. Não se trata de reflexões vagas, mas de considerações que se manifestam no modo como um ser vivo vive a linguagem e o diálogo. Pode-se dizer que é importante vê-las juntas, porque quando estão interligadas elas constituem o substrato, o âmago de onde pensamos, sentimos, decidimos, conhecemos e compreendemos o mundo, e que nós, da Escola Matríztica, chamamos de "epistemologia unitária". (Epistemologia é a teoria do conhecimento humano; a reflexão geral em torno de sua natureza, etapas e limites, especialmente nas relações que se estabelecem entre o sujeito que indaga e o objeto inerte, as duas polaridades tradicionais do processo cognitivo). Essa epistemologia não é a tradicional, porque ela resulta de uma transformação do questionamento, que substitui a pergunta pelo ser, pelo fazer. Toda filosofia tem um sedimento epistemológico. O sedimento tradicional tem sido a pergunta pelo ser desde os seus primórdios no contexto de uma cultura patriarcal/matriarcal que a teve como berço. Somente através do fazer da biologia é que, em meados do século 20, foi possível perguntar como nos demos conta, pela primeira vez em nossa história humana, de que não temos experiência para explicar objetivamente o mundo no qual vivemos e que conhecemos; e que, inversamente, ele resulta do nosso modo de viver e conviver. 

Portanto, o caminhar conjunto da filosofia e da biologia nada mais é do que uma consequência coerente de se dar conta dessa mudança fundamental de perguntar. Desse ponto de vista, e buscando as implicações associadas a essa caminhada conjunta, podemos ver que, enquanto cada pessoa reflete sobre a vida ou o viver, a morte ou o morrer, ela está praticando a filosofia. Uma filosofia fundamental que terá consequências éticas para ela mesma, para aqueles que a rodeiam, e para o mundo natural que ela habita. Nesse sentido, a filosofia, por seu caráter "entrelaçado" com o viver de quem pergunta, constitui um espaço para fazer perguntas, não sendo necessariamente um espaço para esperar respostas. Trata-se mais de um influir na experiência de perguntar-se e dar-se conta do mundo que surgirá como resultado da pergunta em nossa própria vida e convivência. Quando uma pessoa se faz essas perguntas, quando questiona o próprio viver a partir de um determinado sentido, ela se torna uma pessoa observadora senciente (que percebe pelos sentidos). Uma coisa é o mundo acadêmico; outra é a questão da pergunta aberta, na qual se conta a experiência e não se espera nenhuma resposta, senão descobrir um mundo de existência no qual me dou conta do que faço nesse mundo. Um mundo que tem a ver conosco e no qual as perguntas que nos fazemos só podem ser feitas quando estamos centrados em nós mesmos. De estarmos no presente, na inocência de viver o que vivemos e de onde o perguntar surge espontaneamente. Um perguntar que pode nos acompanhar sempre, porque ele é, em si mesmo, a experiência de viver e compartilhar a reflexão em qualquer conversa que experimentemos (vivamos). 
(grifo nosso)

LER MAIS EM - http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/0/biologia-e-filosofia-estreita-relacao-253836-1.asp

quinta-feira, 19 de março de 2015

Exercícios - PRÉ-SOCRÁTICOS

1. (UFSJ) Etimologicamente, a palavra “Filosofia” é definida como “amor à sabedoria”. Historicamente, sua criação é atribuída a:
a) Anaximandro.
b) Tales de Mileto.
c) Anaxímenes.
d) Pitágoras.


 2. Os filósofos anteriores a Sócrates são conhecidos como filósofos pré-socrático, pois bem, sabe-se que esses filósofos buscavam refletir sobre a busca pelo principio de todas as coisas, pois bem, esses filósofos também eram conhecidos como:
a) Filósofos da Natureza.
b) Filósofos Escolásticos.
c) Filósofos Metafísicos.
d) Filósofos Helenísticos.

3. Os pré-socráticos acreditavam que todo o universo foi criado por uma substância primordial que era denominada de: 
a) Apeiron.
b) Arqué.
c) Átomo.
d) Éter.
e) Doxa.

4. (UEA) Dentre os objetivos da Filosofia Pré-Socrática pode-se citar:
a) A compreensão do discurso sobre o mundo, producido pela reflexão filosófica.
b) A análise das ideias, desvinculadas do tempo e das sociedades nas quais surgiram.
c) A procura de semelhanças entre o pensamento lógico e os dogmas religiosos.
d) O acordo dos grandes filósofos sobre a explicação das origens do universo.
e) O reconhecimento do caráter conservador do saber e da produção dos filósofos.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

O Mito e a Filosofia

 

Zeus: rei dos deuses na mitologia grega
Zeus: rei dos deuses na mitologia grega
 
Considerados há muito tempo como antagônicos, mito e filosofia protagonizam atualmente uma (re)conciliação. Desde os primórdios, a Filosofia, busca do saber, é entendida como um discurso racional que surgiu para se contrapor ao modelo mítico desenvolvido na Grécia Antiga e que serviu como base de sua Paideia (educação). A palavra mito é grega e significa contar, narrar algo para alguém que reconhece o proferidor do discurso como autoridade sobre aquilo que foi dito.
Assim, Homero (Íliada e Odisseia) e Hesíodo (Teogonia e Dos trabalhos e dos Dias) são considerados os educadores da Hélade (como se chamava a Grécia) por excelência, bem como os rapsodos (uma espécie de ator, cantor, recitador) eram tidos como portadores de uma verdade fundamental sobre a origem do universo, das leis etc., por reproduzirem as narrativas contidas nas obras daqueles autores.